Mostra retrospectiva elaborada exclusivamente para o CCBB e que apresenta um conjunto instigante de obras originais de Laurie Anderson, composta de instalações, fotografias, desenhos, vídeos, músicas e documentações de performances, criações produzidas desde os anos 1970 aos dias atuais.
De 29 de março a 26 de junho
Curadoria: Marcello Dantas
O primeiro contato com a mostra acontece na rotunda onde está instalado o objeto interativo "Handfone Table", uma grande mesa negra onde o público apóia os cotovelos em pontos específicos e escuta sons que chegam aos ouvidos quando eles são "tapados" pelas palmas das mãos. Aqui o som não está sendo propagado pelo ar, como de costume, mas sim através da transmissão óssea. Este objeto além de receber um trocadilho como título também traz uma outra inversão em sua interação: para se escutar o som se faz o gesto de alguém que não quer escutar nada, está tapando os ouvidos. Assim o som parece que vem de dentro. Esta atmosfera intimista, presente inclusive no título, ainda aumenta ao longo da visitação.
No segundo andar está montada a exposição propriamente dita. A primeira obra a se encontrar é um grande painel de fundo rosa onde estão pintadas cenas desconexas e de traços rápidos, mas que sugerem alguma narrativa, é a instalação "O coelho cinza". Esta pintura parece ter sido feita especialmente para esta exposição no CCBB, e possui 4 pontos aonde o público aproxima as orelhas e escuta uma gravação em português de uma voz tensa porém sussurrante. O que se escuta é algo como um segredo contado por alguém angustiado. Uma parte importante desta obra parece que passa despercebida por grande parte dos visitantes: há pequenos exemplares de um livro fino sobre dois bancos à frente do painel. Esse livro foi escrito em primeira pessoa pela autora, conta uma passagem trágica da sua infância e fala de uma reflexão sobre a memória. Com esse dado a maneira como o painel foi pintado parece dialogar com a maneira que a memória se fragmenta, os fatos se distorcem, algumas coisas desaparecem e outras são acrescentadas. Esta primeira instalação dialoga com uma grande videoinstalação montada em outra sala próxima. Na sala escura está uma grande superfície feita de papel picado formando uma "paisagem" com casinhas de papel. Sobre esta superfície, vários projetores emparelhados no teto projetam vídeos sincronizados acompanhados por uma composição musical da autora. O resultado é um clima de sonhos e mistérios. Os vídeos projetados mostram cenas que se relacionam com a instalação anterior, vêem-se um coelho cinza, uma enfermeira sorridente, uma criança brincando e outras cenas que correm com a música.
A sensação de estar entrando na intimidade da artista continua no restante da exposição.
A sensação de estar entrando na intimidade da artista continua no restante da exposição.
O próximos objetos que me chamam mais a atenção são os dois "Talking Pillow", travesseiros onde os visitantes se debruçam e ouvem sussurros. O uso de um objeto aconchegante, tão comum no cotidiano e ainda ligado a um momento de intimidade, confirma este clima intimista perpassa toda a mostra. Provavelmente estão ligados às instalações citadas anteriormente. Seriam estes os travesseiros daquele hospital em "O coelho cinza"? Os livros-objetos que se seguem continuam a falar da casa e da intimidade, como o livro que conta de maneira extremamente pausada a história de um furto ao apartamento e a lembrança dos objetos que desapareceram ou foram danificados.
Em uma sala anexa está a videoinstalação "Scenes from delusion", que na verdade é uma adaptação da performance ao vivo homônima. É intenso o tema da memória afetiva, desperta os sentidos e explora a reconstrução dos eventos passados até tocar o surrealismo.
Em outra vídeoinstalação, uma pequena imagem em vídeo da artista é projetada sobre um objeto de gesso no chão. Ela conta uma história sobre pontos de vista objetivamente e subjetivamente distintos. A delicadeza da imagem é cativante.
Segue uma série de objetos feitos a partir de violinos modificados. Meu preferido foi "Tape Bow Violin", um violino com arco mecânico onde está esticada uma fita cassete. As cordas desse violino foram substituídas por um cabeçote de leitura ligado a um fone. A série quebra a postura rígida e inacessível do violino como instrumento erudito.
Segue-se uma série de fotografias de Laurie dormindo. São registros de sua experiência de dormir em locais públicos diversos e reparar como estes lugares influenciam em seus sonhos. Mais uma recorrente exploração do tema "sonhos".
Em outra vídeoinstalação, uma pequena imagem em vídeo da artista é projetada sobre um objeto de gesso no chão. Ela conta uma história sobre pontos de vista objetivamente e subjetivamente distintos. A delicadeza da imagem é cativante.
Segue uma série de objetos feitos a partir de violinos modificados. Meu preferido foi "Tape Bow Violin", um violino com arco mecânico onde está esticada uma fita cassete. As cordas desse violino foram substituídas por um cabeçote de leitura ligado a um fone. A série quebra a postura rígida e inacessível do violino como instrumento erudito.
Segue-se uma série de fotografias de Laurie dormindo. São registros de sua experiência de dormir em locais públicos diversos e reparar como estes lugares influenciam em seus sonhos. Mais uma recorrente exploração do tema "sonhos".
A mostra contou com um conjunto significativo de obras e faz uma grande retrospectiva do conjunto da obra de Laurie, no entanto, o espaço físico foi muito limitado para uma mostra tão importante. As vídeo-instalações receberam espaços adequados, mas os objetos expostos foram dispostos em espaços estreitos e o público se acotovelava e se esbarrava durante a visitação.
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